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segunda-feira, 24 de agosto de 2015

feito

feito água, escorro entre idéias
mergulho em sentimentos
me afogo em desilusões

feito pedra, me moldo com o tempo
rolo por diversos caminhos
me desfaço em pedaços ao perder pedaços de pessoas

feito gente, me perco em definições
me acho nas tentativas
me perco de novo, na imensidão dos outros

feito eu, me procuro em mim
me encontro em todos
e continuo a me procurar...

nov14

terça-feira, 18 de agosto de 2015

verde escura

Levantei da cama já sem sono. Puxei as cobertas que estavam presas embaixo de mim pro lado, fui me arrastando e botei os pés no chão. Passei pelo espelho enorme da parede: cabelos desgrenhados, calcinha e uma blusa larga sem manga. A porta já estava aberta, passei por ela e caminhei pelo pequeno corredor: banheiro. Acendi a luz. Espelho de novo: olheiras. A tampa do vaso já estava pra cima, um xixi antigo repousava na água parada. Abaixei a calcinha, sentei, xixi; novo. O xixi acabou, mas eu continuei ali, na mesma posição. O vaso é um dos meus lugares favoritos. Fiquei olhando pra frente, pensando na vida. Virei a cabeça pro lado e vi a pilha de cruzadinhas. Peguei a de cima. Procurei por uma página vazia. Achei. Completei as respostas, guardei a caneta e a cruzadinha. Já não tinha mais no que pensar nem o que fazer ali, no vaso. Papel higiênico. Três voltas. Uma única passada, o xixi não me sujou tanto e não saiu respingando pernas abaixo. Levantei a calcinha, levantei do vaso. Descarga. Decidi escovar os dentes. Olhei pro porta escovas. Verde escura... Verde escura... Minha escova não estava ali. Verde clara, rosa, branca. No lugar da verde escura: vazio. Por alguns segundos, pequenos, admito, fiquei aturdida. É tão mecânico olhar pro porta escovas e a minha escova verde escura estar ali. Nesse pequenos segundos fiquei sem reação e pensei: cadê a minha escova?? Quem pegou? Por quê? Me encarei no espelho: rápida retrospectiva. Fim de semana, viagem, mala... Mala! Saí do banheiro, passos um pouco mais acelerados. Pequeno corredor, porta aberta, quarto. Abri a mala que ainda estava jogada no chão, peguei a necessaire verde de bolinhas e arrastei o zíper. Lá estava ela, no fundo, serena, verde escura. Me olhei no espelho: três pulos pra são longuinho.