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terça-feira, 29 de março de 2011

let's eat each other

nós não fomos feitos um para o outro.
minhas unhas cravadas em sua pele e seus dedos na minha, nada mais são que a demonstração de uma necessidade em nos possuirmos.
queremos nos obrigar a sê-lo.
nosso gosto definitivamente não combina.
a sincronia e levada dos seus sons são abafados pela falta de nitidez e poesia dos meus.
não adianta, nós não nos merecemos.
sua religião não aceita a minha, já minha religião aceita todas: não tenho uma.
sua esperança exacerbada encolhe cada vez mais meu pessimismo, que acaba por naufragar dentro de mim mesma me afastando cada vez mais da superfície.
nós nem sequer comemos a mesma coisa. de um lado peixe cru e de outro sangue de vaca.
de um lado você, de outro eu.
só isso nos aproxima.
seu gosto por mim e meu gosto por você.

terça-feira, 22 de março de 2011

sua

e com um leve abraço
fez-se do braço um laço

- não sais mais daqui

e onde mais poderia estar?

quarta-feira, 16 de março de 2011

desejo(,) que o desejado ainda seja você.

nietzsche me desestabilizou completamente.

assim que passei a perceber que amo desejar mais do que amo o objeto de meu desejo, passei a descredibilizar tanto meu desejo quanto o objeto do meu desejo.

não desejo!

ou por saber que desejo mais desejar, igualo meus desejados de tal forma que os anulo.

meu desejados se tornam permutáveis e meu desejo se sacia de qualquer forma.

não!

não é uma verdade imortal. não existem verdades inquebráveis, nem razão não instintiva.

vou desejar você.

vou desejar sua boca. seu cheiro. sua pele. seu cabelo. sua roupa. seu andar. sua risada. seu silêncio. sua voz. seu beijo.

vou desejar você até te necessitar.

e dessa necessidade desvaler meu desejo; que se fará morto, marfim.

até que um dia meu desejo retome seu tom vermelho e minha necessidade se reentregue à ele de tal forma que minha necessidade por desejo seja minha maior necessidade.



que o parêntese se mantenha.
O normal é sentir na pele, é tocar com a mão, é beijar com a boca

O normal é ser perdidamente apaixonado e se perder em paixões

O normal é declarar amor e se amar mais do que o amado

O normal é fingir que isso tudo é normal e fingir o contrário.



Eu sinto com a mão, eu toco com a boca, eu beijo com a pele.

Eu sou controladamente apaixonada e tento me achar em paixões.

Eu não me declaro e eu me amo mais que o amado.

Eu finjo que tudo é normal, mas sou o contrário.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Postar ou não postar?

Não vivemos de fatos, vivemos de expectativas. Expectativas que viram fatos, ou não. Escolhas de certa forma.
E isso de certa forma me irrita. Queria testar todas as possibilidades (infinitas?).
No livro que estava lendo diziam: "Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida, já é a própria vida"
E pensei ser conveniente tal opinião.
Por não termos repetidas vezes a mesma vida, não podemos saber que caminho tomar por não podermos testá-los. Tanta coisa já devo ter perdido. Quantas escolhas já não devo ter tomado por medo de outras. Quantas atitudes interferiram em atitudes futuras. Quantas não atitudes também. É esse dilema que me mata. É, incrivelmente, essa dúvida que me amedronta.
Agir, não agir; ligar, não ligar; sair, não sair; ver, não ver; comer, não comer; beijar, não beijar; sim, não; talvez? São tantas opções para se restringir à uma. Podíamos combinar:
vou fazer isso, mas se não der certo, vamos apagar, fingir que nada aconteceu e fazer o contrário? Ou: finge que eu não te liguei?
Atitudes nem sempre condizem com personalidade. Eus que brigam por exposição, não exposição. Instinto e razão. Somos vistos pela nossa razão, mas de fato somos nosso instinto? Qual deles seguir? Mostrar?
Discordo então com o meu livro nesse ponto: não seria o peso e a leveza a maior incógnita de bom ou ruim, seria na verdade o sim ou o não.

14/11/2010