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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Beijo

Era como se eu nunca antes tivesse amado. Meus pés batiam no chão com insistência, trêmulos, fingindo não relembrarem da última vez em que tentei relutante e inutilmente os impedirem. Nossas bocas ainda não se tocavam. Não, apenas nossos dedos calorosos, trêmulos, por minha parte, rígidos, pela dele, nos conectavam. Mentira. Nossos olhos... Nossos olhos se tocavam. Nossas pupilas dilatadas pela falta de luz tentavam captar o máximo que transparecia do que não podíamos falar. Não conseguíamos. Eu não teria força para olhá-lo nos olhos por mais muito tempo. Meu tato e minha visão não estavam funcionando muito bem juntos. Meu tato clamava por mais atenção. Meus olhos se fecharam e passei a vê-lo com o toque. Senti-lo. Seus dedos deslizaram dos meus. Seu cheiro perfurou minhas narinas como se seu leve movimento o tivesse levado até elas. Queria engoli-lo, mastigá-lo. Saborear seu cheiro. Não apenas senti-lo. Meu tato novamente tomou o controle. Não conseguia mais respirar. Meus pêlos foram de um em um se arrepiando enquanto seus dedos passeavam pelo meu braço direito. Caminhavam paulatinamente, como se sem pressa e com esforço de controle. Já estava tonta. Sem ver, sem ar. O som da respiração tomou conta dos meus pensamentos. Ouvia cada inspiração forçada minha e cada expiração excitada dele. Sua boca se aproximava da minha orelha direita. O toque entre elas despertou meu olfato e soltei o ar pela boca. Aliviada e desesperada. Meus olhos não se mexiam. Fechados. Minha boca aberta agora encontrava seus cabelos. Pretos. Lisos. Macios. Meu coração me entregaria a qualquer minuto, bastava nossos troncos se colarem. Primeiro as mãos, os braços, boca-orelha. Muito em breve, troncos. Tentei me concentrar em diminuir meus batimentos cardíacos. Respirar devagar. Era isso. Que tentativa estúpida! O cheiro do seu cabelo entrou pelo meu nariz como uma tora em chamas e meu coração explodiu mais do que antes. Sua mão alcançou meu quadril. Sua boca escorregava mais lenta e vagarosa que antes para meu pescoço. Minha boca ficava livre de seus cabelos. Ar. Respirei fundo. Não sabia quando ia ter a oportunidade de fazê-lo de novo. Sua boca se fechou no meu pescoço. Soltei o ar mais rápido do que esperava. Suas mãos se fecharam na minha cintura. Fortes. Rígidas. Era agora. Meu coração saltava feito saltimbancos. Minha respiração já estava descontrolada, desritmada, excitada. Ele puxou meu corpo contra o seu. Com a mão esquerda me apertava contra seu corpo, com a direita segurava, firme e gentilmente, meu pescoço. Cuja boca, que momentos antes ali se deliciava, se rastejava novamente para meu ouvido direito. Já não tinha mais controle sobre minhas ações. Meus instintos me guiavam. E me sinto confortável em tirar a responsabilidade de mim e culpá-los. Sua voz doce, rouca e baixa sussurrou algo salgado em minha orelha. Não ouvi. Ou não consegui processar o que as palavras tentavam dizer no momento. Meu cérebro trabalhava em outros campos naquela hora. Era sua mão deslizando para abaixo da minha cintura. Eram minhas mãos se cerrando em volta dos seus pulsos. Não reprimindo seus movimentos, impulsionando-os. Era minha boca aberta procurando por oxigênio que parecia composto apenas por gás carbônico porque não me dava fôlego e parecia me deixar mais tonta que antes. Era meu corpo, que ainda tremia. Tentei voltar com minha cabeça para frente, fechar a boca e achar minha voz que parecia ter se perdido pra sempre. Mas ela parecia muito pesada, ou talvez as mãos dele em torno do meu pescoço não a deixavam se mexer. Ainda bem, realmente não havia encontrado minha voz. Comecei a tentar retomar o controle da situação. Abri os olhos , abaixei a cabeça tirando a mão direita dele do meu pescoço com a minha mão esquerda e tentei forçar minha vista a enxergar alguma coisa. Sua mão esquerda ainda estava na alça da minha calça, onde minha mão direita repousava trêmula. Ele abriu os olhos, o que provou que antes eles também estavam fechados. Suas pupilas aumentavam aos poucos. Seus olhos marrons iam se apresentando com desejo e calma. Já os meus pretos deviam passar excitação e desespero. Sua boca estava entreaberta e parecia úmida, ainda talvez dos beijos calorosos em meu pescoço. Sua blusa branca permanecia no mesmo lugar, apenas um pouco mais amassada que antes. Algo me fez perceber que ela não deveria mais estar ali, o que fez meus braços perceberem que também não deveriam mais estar ali, o que fez minhas mãos saírem dali e irem para lá. Levantei sua blusa calmamente. Como se precisasse de total concentração, meus olhos se fecharam novamente, deixando em minhas mãos minha total atenção. As mãos dele, agora livres, entrelaçaram meu rosto. Minhas mãos pararam e meus olhos se abriram. Estava próximo. Seu rosto se materializava a poucos centímetros do meu. Podia sentir seu hálito, sua respiração. Meu coração não cabia mais em mim. Minha mão descansou na sua barriga agora metade descoberta. Suas mãos em meu rosto me puxaram para perto do dele. Minhas mãos puxaram seu corpo para perto do meu. Primeiro os narizes. Depois bocas nas bochechas, queixo, bochechas, boca, queixo. Deslizavam leves em movimentos vagos, lentos. Roçavam um nos outros de passagem. Se desencontrando de propósito e se encontrando por necessidade. Até que só boca com boca. A leveza deu lugar à pressão. Pressão de sua boca sobre a minha. Ambas fechadas, quentes. Esfriadas logo em seguida por sua língua, macia, delicada. Que passou pelo meu lábio inferior como se o contornasse sem sair das linhas. Que foram totalmente perdidas por nossas mãos. Sua blusa já não cobria mais seus peitos e minhas mãos a seguravam nas costas rente a seus ombros. As mãos dele estavam abaixo das minhas axilas suspendendo minha blusa até meus seios. Minhas unhas entravam em sua pele. Uma por uma eu ia as arrastando ao longo de suas costas, mas logo as subi e as prendi em seus ombros mantendo a sua blusa para cima. Nossas barrigas se encostavam. Nuas. Sua língua não mais encontrava meus lábios e seu lábio inferior se afastava do meu. Aos poucos. Não suportaria tal distância. Meus dentes se cerraram em torno dele em uma tentativa delicada, porém brusca. Os suguei para mim como se sempre me tivessem pertencido. Tentei amortecer a dor com minha língua, que lentamente escorreguei pela parte do seu lábio que se encontrava dentro da minha boca preso pelos meus dentes. Vagarosamente fui os soltando, até que por vontade própria seus lábios se forçaram aos meus se abrindo e abrindo, junto, os meus. O buraco que se formou entre nossos quatro lábios abertos foi logo preenchido por línguas fugazes e famintas por contato. Macias, molhadas, sincronizadas. Suas mãos acabavam de deslizar pelas alças da minha blusa que já se encontravam perto dos meus cotovelos. Minhas mãos, por sua vez, se viam pelo seu rosto. A direita agarrava seu cabelo, o entrelaçava com força, tentando obter o máximo de contato possível com seu corpo, fio por fio esmagado dedo por dedo. A esquerda deslizava pelo seu pescoço, como se o apoiasse em meio aos movimentos do maxilar vindos do nosso então beijo. Era como se eu nunca antes tivesse beijado. Era como se eu já o beijasse há anos.

sábado, 24 de outubro de 2009

Dúvida

A certeza do ser humano é o incerto. A dúvida. A morte é a dúvida. Viver a vida, viver a morte, morrer a morte. A incerteza leva ao conforto. O conforto da certeza incerta. As mentiras convictas de verdades desconhecidas. De fato verdades? Há verdade, mentira, certo, errado? É difícil de se dizer sendo humano, vivendo humano, pensando humano, pensando português, pensando línguas, pensando pensamentos humanos. Tudo à volta sendo criação humana. Como fugir do que é humano? Como se desvencilhar do que nos cobre e nos esconde do que não nos é perceptível, quando o que nos faz existir nos restringe a ele? Para que saber? Se quer tanto saber o início quando só se acredita saber um fim (que não se sabe que início gerará). E, de fato, só existe fim porque existe começo e vice-versa. Como tudo no mundo. Ou nao? Só existe distância porque já houve a aproximação. Só existe dor, porque já existiu a não dor. O amor, porque já existiu o ódio. O esmalte, porque existe a unha. São complementos. Que se aproximam. Chegando à aproximação dos opostos, uma vez que um só existe por conta do outro. Logo, se chega à pergunta: e o oposto do homem? Do que dependemos? Natureza? Somos opostos? Um só existe se o outro não existir? Fomos feitos para mais uma vez acabar com a natureza para esta se transofrmar mais uma vez e evoluir da sua maneira? Somos todos fases da evolução da Terra? A destruição que leva ao novo início? Podemos dizer também que o ser humano depende um do outro. Seríamos então opostos entre nós mesmos? Realmente seria o homem o lobo do homem? Nossos instintos e pensamentos meios da nossa própria extinção? E o mundo? Depende de quem? Das tranformações? Da evolução? Dos personagens que agem sobre essas transformações? Sentido... Sentido de olfato, paladar, tato... Sentido de semântica, definição, sentido de explicação. Qual o sentido da vida? Vida? What the hell is life? Por que precisa fazer sentido para a gente acreditar? Por que precisa fazer sentido para a gente viver? Somos tão crentes assim? Aceitemos de uma vez a dúvida! Aceitemos de uma vez a ignorância da inteligência! Porquês, porquês... São porquês sem respostas e ter respostas nem sempre é o melhor caminho. Palavras que me limitam. Aaaah palavras que me limitam. Pensamentos não tão limitados que transbordam e secam rápido demais. Palavras gordurosas que grudam e demoram para sair. Sufocada pelo mundo, pelo homem, pelas criações do homem, pelas certezas que não existem.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O porquê do blog, do título, do dia; porquês.

Ao mesmo tempo que organizarei minha idéias e não mais perderei minhas escritas de mim mesma, poderei perdê-las para outros. Mas é um risco que prefiro correr. Não escrevo só para mim, escrevo para não só passar idéias para o papel, como também para outras idéias. Misturá-las, confundí-las, substituí-las, uní-las, quebrá-las. Compartilhá-las. Não sei se vou levar adiante esse blog, ou por quanto tempo vou levá-lo. É uma experiência. Que como toda outra pode dar certo, errado, ou nenhum dos dois. O título! Bem, o título me veio à cabeça no momento e o aceitei pelo fato de ser minha mente posta em escritas. O 'x' por sua vez vem como um multiplicador. Sim, sim, o símbolo matemático de multiplicação. Primeiramente eu me interesso pela matemática e suas operações, e segundo, a ordem dos fatores não altera o produto, o que se encaixa perfeitamente no caso da mente e da escrita. Minha mente estará escrita, minha escrita muitas vezes mentirá e até mesmo minha mente mente. Escreverei o que penso, deixando claro que o que penso nem sempre é verdade, e que a verdade do que penso pode não conseguir ser expressa em palavras que escrevo. Não encarem o 'x' então como versus, e sim o contrário, como um símbolo de interdepenência entre o que pensamos e o que passamos. E concordemos que de nada adiante pensar para si mesmo... O dia? Talvez influência do horário de verão, talvez pelo tédio do sofá, pelo calor, por influências externas, por mera mudança de rotina, ou pela esperança de encontrar o dom da minha vida, a escrita! Pensar e agir, pensar e escrever! E por que não hoje?