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terça-feira, 18 de agosto de 2015

verde escura

Levantei da cama já sem sono. Puxei as cobertas que estavam presas embaixo de mim pro lado, fui me arrastando e botei os pés no chão. Passei pelo espelho enorme da parede: cabelos desgrenhados, calcinha e uma blusa larga sem manga. A porta já estava aberta, passei por ela e caminhei pelo pequeno corredor: banheiro. Acendi a luz. Espelho de novo: olheiras. A tampa do vaso já estava pra cima, um xixi antigo repousava na água parada. Abaixei a calcinha, sentei, xixi; novo. O xixi acabou, mas eu continuei ali, na mesma posição. O vaso é um dos meus lugares favoritos. Fiquei olhando pra frente, pensando na vida. Virei a cabeça pro lado e vi a pilha de cruzadinhas. Peguei a de cima. Procurei por uma página vazia. Achei. Completei as respostas, guardei a caneta e a cruzadinha. Já não tinha mais no que pensar nem o que fazer ali, no vaso. Papel higiênico. Três voltas. Uma única passada, o xixi não me sujou tanto e não saiu respingando pernas abaixo. Levantei a calcinha, levantei do vaso. Descarga. Decidi escovar os dentes. Olhei pro porta escovas. Verde escura... Verde escura... Minha escova não estava ali. Verde clara, rosa, branca. No lugar da verde escura: vazio. Por alguns segundos, pequenos, admito, fiquei aturdida. É tão mecânico olhar pro porta escovas e a minha escova verde escura estar ali. Nesse pequenos segundos fiquei sem reação e pensei: cadê a minha escova?? Quem pegou? Por quê? Me encarei no espelho: rápida retrospectiva. Fim de semana, viagem, mala... Mala! Saí do banheiro, passos um pouco mais acelerados. Pequeno corredor, porta aberta, quarto. Abri a mala que ainda estava jogada no chão, peguei a necessaire verde de bolinhas e arrastei o zíper. Lá estava ela, no fundo, serena, verde escura. Me olhei no espelho: três pulos pra são longuinho.

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