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sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

E suas fraquezas

Fernando Pessoa

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.

Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.



Digníssimo Fê.
Falando em deus: passei a não acreditar em deus no momento em que passei a acreditar no homem.


Filmes da semana:
- Peixe grande (***)
- O tempero da vida (*)
- Lua Nova (**)
- Um mundo perfeito (**)
- Planeta 51 (*)
- Cidade dos sonhos (***) [Manual:http://www.cinedie.com/mulholland_dr.htm]

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